Reflexão em meio ao caos. Um convite sem volta.
(Imagem do Google - Durkheim)
Caro leitor, tenho um convite que, se aceito, é um caminho sem volta . Nesses dias infinitos de pandemia, enquanto estamos embriagados com memes, filmes e séries cabe uma reflexão bem feita com o tempo de ócio e caos que nós temos. Percebemos que somos uma sociedade. Não da forma dada e dita inúmeras vezes por vários sociólogos, professores e tal. Sentimos que somos uma sociedade. Experimentamos o isolamento social como cuidado coletivo. Quando entendemos que uma pessoa pode afetar muitas outras. Seja através de um vírus até então desconhecido, ou por ideias que podem ser nocivas para uma comunidade. Isso me fez pensar na sociologia funcional de Durkheim, que compreende a sociedade como um organismo. Em que, como um corpo humano, todas as partes são codependentes, todos dependem de todos. O que quero dizer com isso?
Estamos, desde o início do que entendemos como mundo ocidental capitalista, imersos em uma lógica individualista muito bem orquestrada. Em que, variavelmente, nos esquecemos do coletivo. Sendo que , mais do que nunca, vivemos em sociedade e precisamos pensar no coletivo como parte de nossas vidas. Nos esquecemos, cotidianamente, que dependemos do papel social de cada um para que o todo funcione bem. Existem papéis sociais como o papel de um médico que cuida de um doente. Ele é tão importante quanto o de um funcionário da limpeza do hospital, para que todos estejam protegidos. O que isso quer dizer? Quer dizer que, para que possamos viver nossas vidas, temos um papel social a cumprir. É claro que esse papel varia, temos inúmeros papéis sociais. O papel social que exercemos em nossas profissões convivem com os papéis pessoais, familiares e dentro de cada camada individual. E, sem dúvida, nem sempre podemos controlar nossa função no mundo. Existem algumas funções que nos são empurradas goela abaixo como a cachaça de graça que a gente tem que engolir. Que tipo de função?
Ora, há quem, como eu e cerca de 53% da população mundial é mulher. Não se escolhe ser mulher. Existem inúmeras regras preestabelecidas sobre o que se espera de uma mulher e para que ela existe na sociedade. Essas regras variam de sociedade para sociedade, de acordo com a cultura, religião, classe e raça. Porém, o que podemos perceber é que mulheres em todo o mundo são limitadas por hierarquias de gênero tão rígidas quanto fatais. Sim, morrem por serem mulheres e sofrem todo tipo de agressão por conta disso. O mesmo acontece com a raça de quem se fala, a classe social de quem se fala, a orientação sexual e o lugar de quem se fala. Nenhum desses desdobramentos – raça, gênero, classe, orientação sexual - se escolhe , mas todos fazem parte da sociedade, cada um com regras muito bem elaboradas para que se cumpra um papel. O que se escolhe então, se não podemos escolher se nascemos ricos, brancos, homens e heterossexuais? Como se colocar diante disso. Pois , reconhecer-se é inevitavelmente colocar-se no mundo de forma consciente. Esse é o convite de hoje: tomar consciência do seu papel na sociedade.
Reconhecer-se enquanto indivíduo é , também, colocar-se politicamente no mundo. Não, não basta tomar consciência para colocar-se. Para isso uso Aristóteles, nosso amigo antigo, que muito contribuiu para a filosofia. Em sua máxima, “o homem é um animal político”, tomo liberdade de forçar, a mulher é um animal político. Se seguirmos o pensamento de que somos todos seres políticos, podemos compreender que ser mulher, LGBTQ, preto, trabalhador é uma atitude política por si só.
No momento em que entendemos quem somos, somos forçados a sobreviver coletivamente de forma consciente. E, para isso, não temos condições de nos isentar politicamente. Somos marginalizados politicamente por milênios e não é a toa. Mas nem tudo está perdido, acredito que as funções sociais são mutáveis através da política, do diálogo, da luta social. Isso já foi feito por gente como eu e você, que tomaram coragem através da consciência pra dizer o que precisava ser dito. Mudar o que precisava ser mudado. Logo, caro leitor, seja você quem for e qual papel te cabe na sociedade, compreenda-se socialmente para que possa ser crítico politicamente. Para que, como sociedade, possamos ser livres individualmente é preciso conviver politicamente. Eu avisei que era um caminho sem volta. Vamos mudar a realidade que nos cerca aos poucos e juntos.
Texto: Nathália Carvalho
Email: nathalia.carvalho@outlook.com
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Que texto INCRÍVEL 👏🏼😍❤️