Made in China e o mito do trabalho escravo chinês
Praticamente todos os produtos que compramos têm escrito, em seus rótulos, “Made In China”. Mas por quê? Ao ouvirem essa expressão, o que se passa na cabeça de muitas pessoas ainda é a errônea ideia de que a China fabrica grande parte dos produtos mundiais por sua mão de obra ser muito barata, de maneira que operários trabalham o dia inteiro em condições precárias e ganham salários irrisórios e os produtos, lá feitos, são de baixa qualidade.
A visão supracitada já não faz sentido há muito tempo. A China vem crescendo assustadoramente há mais de 30 anos, principalmente desde os anos 2000. Para se ter ideia, em 1990, a China correspondia a 4% do PIB mundial; em 2018, esse valor já era de 18,7%, acima dos EUA, que detinham 15,1%. O crescente PIB chinês foi acompanhado de um aumento na renda das famílias, o que explica, por exemplo, a China ter o número mais alto de turistas que viajam para o exterior.
Além disso, fazendo uma análise histórica, percebemos que o país asiático trocou sua pauta de exportação de produtos com baixo valor agregado para tecnologia de ponta. Na década de 1980 e início dos anos 90, as principais exportações chinesas eram produtos manufaturados e agrícolas. Ao longo do tempo, essa pauta foi sendo modificada; atualmente, as principais exportações são de produtos de alto valor agregado, como máquinas e eletrônicos. Ademais, o país, que investiu pesado em pesquisa e desenvolvimento, criou a tecnologia 5G para internet e conta com 2 gigantes empresas multinacionais do ramo tecnológico, Xiaomi e Huawei, mostrando que a ideia de produção de artigos de baixa qualidade já não faz mais sentido.
Por outro lado, podemos observar que o mercado de trabalho na China também sofreu diversas transformações. O país teve uma grande mão de obra rural com produtividade baixa, que se deslocou para as cidades durante os anos 80, mantendo seus baixos salários, mesmo com crescimento elevado da demanda por trabalho. Porém, os baixos salários dos anos 80 não eram a vontade governamental chinesa, já que a população, por ganhar pouco, consequentemente também consumia pouco. Com a maior população do mundo, era ideal para a China que houvesse um aumento no poder de consumo das famílias, gerando maior fluxo de renda na economia e maior mercado consumidor. Partindo dessa premissa, podemos observar que a média salarial industrial na China, entre 2005 e 2016, aumentou mais que a produtividade e triplicou nesse período. Em 2005, o salário médio por hora era de US$1,20 e, em 2016, o mesmo já era de US$3,60; um crescimento altíssimo. No Brasil, o trabalhador industrial ganha em média US$2,70 por hora. Ou seja, o salário dos operários industriais chineses já é maior que o brasileiro. Ademais, apesar de ainda haver alguns relatos de trabalhadores sendo explorados por longas jornadas de trabalho, a legislação chinesa prevê 40 horas semanais de trabalho, muito semelhante à brasileira nesse aspecto. Portanto, diante dos aspectos apresentados, podemos concluir que a ideia de mão de obra extremamente barata e produção de artigos de baixa qualidade já não é mais adequada aos chineses.
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