Os indígenas e a política no Brasil
Você sabia que a eleição da primeira deputada federal indígena no Brasil foi em 2018? Joênia Wapichaba é formada em Direito pela Universidade Federal de Roraima e possui mestrado na Universidade do Arizona, porém o mais triste é sempre ter que falar sobre seu brilhante currículo acadêmico para validar sua opinião. A condição de Joênia é duplamente prejudicada na política brasileira; primeiramente, pelo simples fato de ser mulher e, principalmente, por ser indígena. É comum vermos opiniões femininas sendo descartadas e substituídas por masculinas que exprimem exatamente a mesma mensagem. O motivo? Uma insistente postura do cidadão brasileiro de subestimar a inteligência e competência de mulheres, sobretudo, quando o assunto é política. Além disso, há também um persistente estereótipo negativo acerca do indígena brasileiro, proveniente de um pensamento colonialista de que o índio é inferior ao descendente europeu, de maneira a criar obstáculos mentais na cabeça do eleitor e impossibilitar o voto nesse grupo. O quão perigoso isso é para nossa democracia? Cerca de 820.000 pessoas não são ou são insuficientemente representadas nas Assembleias Legislativas Estaduais, Câmaras Municipais e no Congresso Nacional. A falta de representatividade indígena é responsável por diminuir o poder de atuação de instituições de combate à violência de garimpeiros e demais figuras que representam uma ameaça para essa minoria. A criação da Funai, em 1967, visava proteger e promover os direitos indígenas no Brasil, entretanto, a carência de representantes conscientes, de fato (com vivência ou proximidade), das mazelas que assolam esse grupo faz com que esse debate seja negligenciado. Tendo essa escassez de personagens indígenas na política em vista, no ano de 2008, a lei nº 11.645, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Essa conquista foi muito importante para a etnia em questão, pois, além de enfatizar o genocídio vivido, aborda também as particularidades dos grupos indígenas brasileiros, buscando quebrar o senso comum e preconceituoso de que o índio é um ser retrógrado e não civilizado.
Texto: Shamira Rossi Machado
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